Algures num qualquer vilarejo do interior do país, numa ruela pouco frequentada, ali se situava uma humilde casa de oração. A dita, mais parecia um velho armazém de configuração retangular de onde se destacavam várias janelas e uma grande porta de acesso. Todo o edificado estava pintado de branco por forma a chamar a si um ar de frescura e limpeza, com bancos de madeira envernizada para servir de assento a quem quisesse assistir à prática cristã, um púlpito e uma cruz de madeira incrustada na parede eram esses os pertences da referida casa de oração..
Habitualmente aberta para qualquer pessoa motivada a recolher-se com intuito de orar, escutar as prelações, falar de si com o Senhor, ou estudar as coisas de Deus que são nem mais, nem menos, que coisas da vida de quem se queira em paz e agradecido ao Altíssimo, era o desafio proposto.
O pastor e sua mulher eram figuras surradas pela idade, mas que conservavam em si a amabilidade e a sensatez para lidar com as demais pessoas. Ainda que por vezes incompreendidos fossem alvo de desprezo dos elementos exteriores, que se consideravam como de “casta superior”. Porém, eles bem sabiam que a Graça de Deus lhes bastava, para que as diretas ou indiretas que lhes lançavam não lhes tirassem o sono.
Os frequentadores do templo, eram em número diminuto de crentes, face ao número de habitantes do sítio, o que segundo alguns desses apontavam os crentes como os coitadinhos, ou como sendo os pecadores envergonhados, os bíblicos, os protestantes, ou coisas parecidas.
Porém, a graça de Deus pulsava em cada um daqueles corações, sempre prontos a encararem o isolamento a que estavam votados pelas demais pessoas, como prova da fidelidade do caminho que tinham sido despertos a seguirem.
Quantas das vezes ao passarem pelo snr ou (a), A, B, C, não os ouviam a cochichar: `lá vai o pecador perdido em busca de redenção. Sempre enfiado naquele armazém como se não tivessem mais o que fazer, muitos pecados devem carregar consigo”
Certo dia os crentes estavam reunidos em culto e as suas vozes enchiam o lugar com cânticos de louvor e oração, quando inesperadamente uma tempestade se abateu sobre aquela região . Como costuma dizer-se: a chuva caia aos cântaros; com trovões, relâmpagos, vento ciclónico que abalava tudo por onde passava, encharcando a estrada por falta de esgotos, enfim … coisas de temporal, e apanhou descuidado um certo senhor que passava precisamente na ruela e como escapatória só lhe restou entrar na casa de oração para se abrigar do temporal, com o intuito de logo que possível pôr-se a fresco daquele lugar.
Como um esquivo, entrou, e encostou-se de pronto a uma das paredes para não ser notado. E assim foi, porque os crentes cantavam, cantavam, cantavam, absorvidos em seu mundo sem que tivessem dado conta da presença dum estranho.
O estranho por sua vez ouvia cantar e era como se na sua consciência se estivesse abrindo a uma nova página que lhe não era comum de todo, acompanhado de uma curiosidade que até então lhe era desconhecida. Enquanto escutava, era como vindo de um coral de anjos, o que então ouvia: – “Ó Deus, bom Pai e Benfeitor, a ti rendemos com ardor louvor sem fim, Senhor, de todos nós Sustentador. E Tu, Deus Filho, ó bom Jesus! Por nós sofrestes numa cruz; de ti nos vem a clara luz que nossos pés aos céus conduz.Tu Deus, Espírito veraz; oh! nossas almas satisfaz com gozo, com divina paz, e as nossas aflições desfaz. Ó infinito e excelso Deus ampara-nos, embora réus.”
Enquanto ouvia, repentinamente as lágrimas marejaram os olhos do intruso, e sem saber o porquê, como uma memória viva passou por sua mente todos aqueles excessos que havia cometido com aquelas pessoas, que afinal estavam ali simplesmente preocupados em louvar a Deus.
Lá fora a chuva continuava a cair copiosamente; o vento rugia e as pessoas cantavam como se estivessem a vivenciar uma experiência única em suas vidas. Tão absortos estavam, que continuavam sem se aperceber da presença daquele. Após um espaço de tempo, ouviu-se a voz do pastor a convocar a assembleia para a pregação, e começou por dizer:
“ Meus caros irmãos; Deus apelou aos nossos corações para estarmos aqui reunidos, precisamente em seu nome, não para fugirmos da chuva, da tempestade, ou o quer que seja. Mas, tão somente, para o louvarmos por aquilo que Ele é, e sempre foi.
Ainda que o nosso esforço tenha sido o termos vindo de nossas casas até esta casa de oração, fizemo-lo com alegria e cientes que essa é a vontade de Deus, que se deu em forma de homem para vir a este mundo por cada um de nós e por toda a humanidade.
Repito: Ele fê-lo por amor a cada um de nós e de todos os outros.
E não o fez por preferência a este ou aquele indivíduo; por escolha individualizada deste em desfavor do outro; do bem estar, ou do mal estar daqueloutro; ele fê-lo a saber que todos somos pecadores e a precisados de remissão.
Deus é um ser único em misericórdia, pois que sendo Santo, procura chamar os pecadores para serem também santos. E Ele fá-lo através de Jesus Cristo, o Salvador.
Nesse sentido, não se importem com os epítetos que vos são colocados pelo mundo, porque a nossa fé não se alicerça nas ofertas do mundo, mas, sim, na graça do reino de Deus que veio até nós por Cristo, o nosso Salvador.
Que seria de nós, se Jesus Cristo nos tivesse olhado discriminando-nos pelas nossas origens, ou pelas posições hierárquicas que ocupamos na sociedade? Felizmente que essa não é a forma pela qual Jesus nos salvou! Fê-lo pelo grande amor às almas perdidas, da qual fomos arrancados da penalidade, pelo sangue vertido de Jesus Cristo na cruz do calvário.
Não fomos nós que olhamos primeiro para Ele; foi Ele que nos olhou primeiro, e nos desafiou; proporcionando-nos aquele mesmo ardor com que Ele despertou naqueles que iam a caminho de Emaús, e que só foram despertos porque Jesus lhes fez a descrição das escrituras e partiu o pão tal qual o havia partido junto dos discípulos. Só então se lhes abriram os olhos. Ou seja, compreenderam realmente o que se passava.
O reino dos céus está aberto a todos aqueles que queiram aceitar Jesus Cristo, porque a Palavra de Deus só pode ser entendida como o convite de Deus para toda a humanidade. A Palavra de Deus penetra no coração das pessoas, levando-as a compreender quem é Deus, e o que é que Deus pretende.
Alguém duvida do que estou a dizer?
Foi nesse momento que o intruso se arrastou do sítio onde estava, e fazendo-se notado perguntou: Será que eu sou digno de conhecer esse vosso Deus?
O vento continuava a soprar, os olhares das pessoas viraram-se atônitos para o lado donde vinha a voz, e fixaram-na na pessoa que falara ainda que com complacência e simpatia pela disponibilidade do intruso, enquanto o pastor dizia:
– Meu caro; quem o chamou a este lugar não fomos nós. Foi Ele! O Deus de misericórdia. O Deus Salvador, que o quer como seu filho e o trouxe até este lugar.
Bendito seja Deus, que desperta corações e que chamou pelo meu irmão.
Venha ao seio desta igreja.
Quer aceitar Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador?
– Sim, quero!
– Repita comigo: Desde esta hora, aceito Jesus Cristo como meu único Senhor e Salvador, e comprometo-me a procurar honrar e conhecer Deus tal qual as escrituras testemunham Dele. Amém!
E o intruso repetiu as palavras sentido cada palavra dita.
E o pastor concluiu: neste momento há festa no céu, por mais uma alma que se identifica com Jesus Cristo, o Salvador. Para Ele toda a honra e toda a glória.
Enquanto isso, a assembleia com toda a alegria cantava: … “Cantarei a linda história de Jesus, meu Salvador; cantarei na sua glória com os santos, com fervor. Eu perdi-me e Ele achou-me, longe, longe do meu lar; abraçou-me então, tomou-me pra com Ele eu ir morar”…
O pastor voltou a tomar a palavra e disse: meus caros irmãos, ainda há pouco falava em tempestade, porém, Deus no seu trabalhar não tem em conta as ocorrências meteorológicas, Ele age como e quando quer! O que acontece é que nós, os humanos, queremos entender as coisas muito pela lógica das probabilidades humanas, e é nesse contexto que questionamos o poder de Deus como Criador e Sustentador de todas as coisas. Se Deus hoje chamou este nosso irmão, foi por sua vontade. É verdade que o nosso irmão quando saiu de sua casa não tinha por objetivo estar aqui, e muito menos para aceitar o Senhor e Salvador.
Aquilo que aos nossos olhos se dota de imprevisibilidade, aos olhos de Deus não o é. Porque Ele é omnipresente ,omnisciente, omnipotente.
Assim, cabe-nos continuar o caminho da santificação, cientes de que somos mensageiros da Palavra de Deus a ser propalada a toda a gente, pois não sabemos quais deles o Senhor vai desafiar.
Entretanto a tempestade terminou, e o pastor com reverência despediu a assembleia com a benção apostólica.
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