Por força dos meus cabelos brancos que refletem muitos aniversários acumulados, permitem-me usufruir do tempo distribuído a meu modo.
Assim, depois do almoço gosto de me sentar no interior do meu carro, devidamente estacionado no meu quintal, para usufruir do seu aconchego; sobremodo do calor acumulado dos raios solares que fazem despertar os meus membros regelados pelo frio e aviva a minha memória ao olhar o bocado de chão que me rodeia, onde posso distinguir: laranjeiras, abacateiros, anoneiras, tangerineiras, nogueiras, macieiras, ameixoeiras e diversidade em verdes, da erva do campo, que no seu silêncio se congratula da terra fértil, salpicada pelas cores das diversas flores. Ainda que estas anarquicamente se distribuam entre espécies, e fico a pensar o quando Deus me abençoa, permitindo-me usufruir da grandeza da sua criação, e percecionar o quanto Ele é grande.
Alturas há em que sou chamado a atenção pela passarada que chilreia empoleirada nas copas das árvores, lembrando-me que não estou sozinho num mundo que fervilha em vida. E talvez esse mundo diverso esteja agradecido a Deus a seu modo, porque não precisam do mais, que não seja da vida de que dispõem, e que com singeleza aprenderam a amar, cuidar e jamais reclamam culpas nem fracassos.
Entretanto, pelo rádio do carro desfruto dum hino: “Jesus Cristo mudou meu viver; é a luz que ilumina meu ser, Jesus Cristo mudou meu viver…” E fico a pensar nas coisas simples que a vida me tem dado, e a gratidão pelo que sou, satisfazendo-me com o calor que a minha ossatura recebe do bocado sentado no carro, e percebo que este meu caminho não seria o mesmo sem que Jesus tivesse mudado o meu viver.
Não é solidão, não! Não! É a reflexão da minha gratidão pela mão de Deus que sempre me amparou neste percurso longo; onde os cabelos brancos são o testemunho dos bons e maus momentos vividos. Mas, Nele encontrei a força que me impulsionou a atravessar as intempéries que se colocaram, e a fazer (por vezes) algumas boas escolhas, e me permitir nas horas de descanso o gozo dos pequenos momentos de recolhimento espiritual.
E sentado no interior do meu carro, como que embalado continuo a ouvir tranquilo o rádio: “Dobrem os joelhos e ergam as mãos, o Senhor é Deus…” Fecho os olhos em plena concordância e deixo-me embalar suavemente pela música, trauteando-a com mais ou menos afinação; até que me recordo que tenho outros pequenos e simples afazeres.
Deus seja louvado!
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