Um camponês, com o seu corpo vergado pelos muitos anos de labuta em torno da componente agrícola, ao fim de mais um dia de trabalho, chega a casa cansado e pede para que a sua mulher lhe retire uma pequena farpa, vulgo pico, que se alojara num dos dedos de sua mão.
A mulher, também idosa e desgastada pelas implicâncias da vida, foi buscar uma agulha para com ela retirar o pico e vagarosamente colocou os óculos de lentes grossas na sua face; mas, por mais que tentasse ver, os seus olhos fraquejaram. Porque estavam cansados e não lhe permitiram ver a referida farpa. Então chamou pelo filho, que acabara de chegar a casa vindo do seu emprego na cidade. E, aquele, ao pegar nas mãos do pai, só então deu conta de que estavam extremamente calejadas.
E com dificuldade conseguiu extrair o pico que indiscretamente se acoitara num dos dedos da mão de seu pai, que refletiam aspereza, calejamento e alguns sinais de artrite, prenúncio na deformação a ocorrer nos dedos, sendo que tudo se passara pelos inúmeros afazeres profissionais executadas com todo o zelo, que a sociedade a mais das vezes nem tampouco reconhece.
Como que em rebate de consciência, deu conta das dificuldades na vida dos seus pais.
Embora, eles nunca se tenham queixado; sem dúvidas que o fizeram pelo amor incondicional que lhe dedicavam. Daí terem-lhe dado o carinho o conforto e a oportunidade `que eles não tiveram´ de através de especialização académica preparar-se para os desafios dum mercado de trabalho exigente.
Vem a propósito este pequeno conto, nas causas de indivíduos que não se dão conta da forma como tratam os outros; pela simples razão dos outros exercerem profissões que aqueles entendem de menor valia. Quando na verdade a vida em sociedade, é composta por interdependências. Se o graduado exerce as suas funções em sossego e prontidão, precisa que o não graduado, execute as tarefas ditas humildes, que ele não sabe ou não quer executar. E o vice-versa, também é exigível. Pois assim se regula em normalidade os vários sectores da sociedade.
Infelizmente, assiste-se no dia-a-dia ao desrespeito dos outros, muitas das vezes, por inerência de cargos de chefia, posição social, riqueza ou graduação, o que na realidade não passa de pura jactância. Pois todos nós, de certa forma, dependemos da presteza societária dos demais.
A vida em sociedade deve girar essencialmente em torno do respeito e do amor ao próximo, tal qual refere João (13: 35) que cita Jesus quando disse: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.
Se um putativo cristão no seu quotidiano ignora este mandamento, de certeza que entristece Deus e compromete-se aos olhos dos que o rodeiam, por falsidade na correspondência entre aquilo de que fala e faz.
O verdadeiro cristão tem que procurar refletir em sua vida um conjunto de princípios que Jesus ensinou, tais como: bondade, temperança, humildade, tenacidade, compaixão, lealdade, compreensão, sinceridade, discernimento e amor.
Termino com Tiago (2: 1-4) que relata o seguinte: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em aceção de pessoas. Porque, se entrar na vossa reunião algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido, e atentares para o que tem traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de honra; e disserdes ao pobre: fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés, não fazeis, porventura, distinção entre vós mesmos e não vos tornais juízes movidos de maus pensamentos?”
Graça e Paz!
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