(Texto de certa forma inspirado pelo livro “o peregrino” de Terry Hayes)
O telemóvel despertou-o com a receção de uma mensagem, que referia o seguinte: “Caro senhor Fonte Limpa; foi sorteado com umas férias, sem que isso lhe possa acarretar quaisquer custos. Sendo certo que usufruirá de ótimas instalações, boa alimentação, melhor companhia, todo o tipo de prazeres, e ainda nos passeios que possa fazer, todas as pedras preciosas que encontrar serão suas por direito. Se passado o período de férias quiser passar a hospede residente, só terá que emprestar o seu bom nome para fins publicitários. Caso esteja interessado, aguarde o transporte que passará junto da sua morada e será transportado com outros contemplados até ao sítio a partir da qual farão o restante percurso a pé”.
Surpreso, foi invadido de grande alegria, sobreposta por uma série de sonhos a desenrolarem-se na perspetiva do que passaria a ser a sua vida? Pelo que começou por arrumar o seu trolley de viagem, apetrechou-se de boas roupas e melhor calçado, e dispôs-se a esperar o anunciado transporte.
Dias depois iniciou a viagem na companhia de outras pessoas, que felizes tinham por sonhos os prazeres, mais prazeres, a felicidade desmedida.
Chegados ao ponto em que deveriam fazer o restante percurso a pé, os mais lestos ao saírem da viatura começaram a correr para chegarem primeiro, na ânsia de usufruírem das melhores acomodações, sem desperdício de tudo aquilo que entendessem por direito.
Outros, como o Fonte Limpa, que levavam os seus trolleys de viagem, tinham que caminhar e puxarem os respetivos objetos, sendo que a estrada era boa, mas, às tantas depararam-se com duas placas, a primeira que dizia: Por este caminho farão o percurso por estrada larga com algumas subidas e demorarão somente duas horas.
A outra placa dizia: Por este caminho estreito e alternativo chegam em segurança, e demorarão sete horas. Em tempo: a estadia será antecipadamente paga com a transformação das vossas atitudes, daqui para diante.
Fonte Limpa leu atentamente os avisos e arriscou fazer a viagem pelo caminho largo, por serem menos horas de caminho e sem exigências visíveis, ainda que no tocante ao percurso fosse omisso no que respeitava a segurança.
A verdade é que o trolley ao fim de algum tempo pesava que nem chumbo, e muitos outros distanciavam-se na sua frente para reclamarem os prazeres anunciados.
Contudo, tinha arriscado seguir o caminho largo e mais curto na distância, forçaria um pouco com as subidas, mas chegaria na frente de uns poucos que tinham optado pelo caminho alternativo e que chegariam exaustos.
No princípio do caminho este era ladeado por umas tantas flores, pelo que se sentia o odor perfumado das mesmas no ar, mas ao longo do percurso as flores iam rareando, e às tantas começaram a aparecer algumas urzes e cardos. Mas, logo apareceu uma placa a dizer “Força! Está quase a chegar ao objetivo.” passaram por ele indivíduos apressados e que não levavam bagagens, mas aquele último anúncio impulsionou-o a continuar a caminhada com mais vigor. Mas o facto é que já transpirava a olhos vistos, e aos poucos as forças iam-lhe faltando. Parou a descansar um pouco, pelo se sentou na mala a observar as pessoas que em correria doida ultrapassavam-no para chegarem primeiro que todos os demais.
Passados momentos, restabeleceu forças e continuou a caminhada quando se depara com uma subida longa que o deixou deveras preocupado. Mas enfim, tinha que continuar.
Eis quando, um dos indivíduos que o tinha ultrapassado caminhava em direção inversa. Estava todo indignado, e ao cruzar com Fonte Limpa diz: “olhe que tudo isto não passa de um embuste, vou de regresso a casa, e vou-me queixar de publicidade enganosa. Pois que comigo não brincam, não.”
Fonte Limpa em resposta proferiu um som gutural impercetível, e continuou o seu caminho até que chegou ao cimo da estrada, e deparou-se com uma grande ponte. E do outro lado da ponte vislumbrava-se um palácio que parecia feito em ouro, com jardins supostamente em pedras preciosas. Só que a travessia da ponte era escorregadia, pelo que se viam pessoas incapazes de um caminhar regular, e de quando, em quando, precipitavam-se da ponte abaixo e desapareciam em remoinhos de vento, para logo se estatelarem num chuá, nas águas gélidas e revoltas que em marcha acelerada eram engolidas por uma abertura na montanha que dava lugar a um rio subterrâneo.
Os mais afoitos agarravam-se às proteções da ponte, e a todo custo procuravam chegar à margem, na ânsia de se sentirem empossados como donos e senhores daquelas maravilhas.
Fonte Limpa em face do que via sentiu-se enganado, e não vislumbrava quem tivesse chegado ao outro lado da ponte.
Assim, frustrado entendeu que não arriscaria a sua vida na tentativa de atravessar aquela nefasta ponte. Olhou em torno do lugar, e reparou numa placa que dizia: “Volte para trás, e mais ou menos duas horas de viagem, vai encontrar um desvio que vai levá-lo ao caminho longo e estreito. Mas, a hospedagem não será grátis, e as pedras preciosas que encontrar não são suas, são para usufruto de toda a comunidade. Atenção: a hospedagem ganha-a com uma nova atitude.”
Ficou a pensar no assunto e disse para consigo mesmo: Cansado já eu estou. Mas, que tenho a perder? Mais umas horas de caminhada, e em vez de uma correria desenfreada vou tranquilizar e procurar fazer o trajeto por etapas, e ainda começar a apreciar a paisagem para ganhar forças para o muito que falta da viagem. E se preciso for, e sem me queixar, vou ajudar quem em dificuldades pelo caminho encontrar. Porque afinal, que me vale usufruir de toda aquela majestade se me sentir sozinho, sem ninguém com quem possa compartilhar das alegrias e das tristezas. Seria como uma múmia dentro do respetivo esquife.
Ao voltar para tomar o caminho alternativo não deixou de estar cansado, mas de coração aberto encontrou o alento necessário para fazer o percurso sem queixumes, ciente dos passos que tinha que dar.
Demorou a fazer o percurso e quando chegou ao local, era um mero castelo rodeado de inúmeros jardins muito bem cuidados, mas onde se respirava ar puro e se sentia paz, e as pessoas que o receberam manifestavam a alegria e a boa-vontade por ter chegado ao fim da viagem.